No meu período de experimentação de safado, conheci uma menina do meu curso técnico com quem me dava muito bem. Era uma bela flor, todavia não pude tocar em suas pétalas, apenas vivenciar um fora especial, para não dizer idiota.

Tudo ocorreu quando teríamos uma aula extremamente pé no saco em uma sexta a noite. Naquela noite estava acontecendo no centro da cidade uma festa típica do bairro, não lembro exatamente do que, mas tinha um monte de barraquinhas vendendo pastel, cachorro quente, e tinha umas bandas tocando, 2002 ainda...

Estava nessa festa eu e essa bela flor, na qual "decidi" investir. Digo isso entre aspas porque fui com uma tal vontade que era como se eu estivesse pedindo desculpas por chegar mais perto dela. Ela olhava, sorria, e me perguntava se estava tudo bem. Nisso, bem ao estilo "calça cagada", perguntei se ela não queria ficar comigo. Bem, é óbvio que tomei um não na cara.

A riqueza daquele fora, apesar de ter me sentido o mais idiota dos idiotas, foi ter aprendido sobre a sensibilidade das mulheres: mesmo que você tenha um puta plano na cabeça pra chegar numa garota, se você não confia nele, a mulher saberá isso na mesma hora. As posturas estúpidas que eu tive de "pedir pra ficar comigo", em um tom de voz como alguém que está pedindo um favor, se não desculpas, rebaixou a relação de sedução a uma relação de esmola, de alguém que mendiga um favor, um beijo. A noite serviu para tomar um bom quentão, aliviando o desejo carente de meus lábios.
 
Uma das coisas que mais a gente teme, e contraditoriamente é a o que nos dá mais segurança na sedução, são os "foras" que a gente leva: "ai, não sei...", "vamos ser só amigos?", entre outros.

Fazendo uma analogia com a arte marcial, a primeira coisa que aprendemos antes de dar os golpes é cair no chão. Isso mesmo, cair no chão: levantar, cair, levantar, cair. Quando a gente leva um fora, apesar deste carregar-nos com uma marca de rejeição ("não me quiseram"), nós fazemos um rico exercício que foi o teste da suposição, isto é: confirmei se a atração entre eu e ela (no meu caso) era de fato tão intensa a ponto de rolar aquele beijo de sair faíscas. E como dito anteriormente, se não arriscamos, temendo o fora, já o fazemos de modo antecipado: aniquilamos nossa chance enganando-nos de que "eu não estava tão a fim".

Oh tonterias, oh pressupostos da maldita segurança. Seduzir só tem sentido porque não estamos no mundo das certezas, das determinações; vivemos no meio das condições e possibilidades. Sou feio, e isso é difícil de contornar. Mas posso ser sensual, atraente, simpático, carismático. E é essa incerteza e possibilidade da vida que me permite, mesmo sendo feio, ter sucesso, viver a vida, ser feliz. Outra hora discutiremos o conceito de feiura.

Assim, da mesma forma que temos chances, ainda que quase certas, de levar um NÃO; do mesmo modo existem chances de levar o SIM, que não virá bater na nossa porta com um cartaz "por favor, eu estou louca pra ficar contigo.".

Meus caros, isso é ilusão. Os mistérios são tão prazerosos porque nos deixam em dúvida, não são nos dão respostas 100% exatas.